Após as entrevistas presenciais, consideramos que seria importante a realização de uma pesquisa quantitativa para uma melhor compreensão dos hábitos de consumo do nosso público-alvo. Procuramos pesquisas já realizadas, mas encontramos muitas sociodemográficas (gênero, idade, renda, escolaridade etc.) e poucas comportamentais. Percebemos algumas tendências trazidas pela pesquisa qualitativa, porém gostaríamos de quantificar as respostas com uma amostragem maior.
A diferença entre pesquisas qualitativas e quantitativas se traduz no número de pessoas ouvidas, na abordagem e no tipo de dado coletado. Enquanto, na primeira, perguntamos “por que” e “como”, na última perguntamos “quantos”.
Em uma abordagem qualitativa, geralmente você tem contato direto com a pessoa e está interessado em saber como a pessoa utiliza um produto e por que o utiliza dessa forma. A sua intenção é identificar diferentes comportamentos, opiniões e atitudes sobre o produto.
Em uma abordagem quantitativa a intenção é medir quantas pessoas acham isso ou fazem aquilo e quantificar comportamentos mais comuns dentro de um universo de pessoas. (Volpato E., 2014)
De acordo com Sauro (2015), customer analytics significa transformar ações e atitudes dos clientes em dados:
Nem todos os dados são iguais, e saber com que tipo de dado você está lidando orienta sobre o que fazer com ele. Quando você pode interpretar o dado que está disponível, você pode começar a tomar decisões melhores sobre os recursos do produto e as experiências de serviço. (Sauro, 2015)
Existem vários tipos de métodos quantitativos para conhecer o comportamento do usuário, tais como: benchmarking, Web Analytics, Teste A/B, Card Sorting, questionários, Eyetracking, entre outros. A metodologia que escolhemos foi a do questionário online.
Surveys são ferramentas flexíveis de pesquisa com usuário. Você pode administrá-las em uma variedade de contextos – como uma pesquisa online curta em um site, por email, ou depois de um teste de usabilidade.
Elas podem produzir uma combinação de dados quantitativos e qualitativos -avaliações, proporções de respostas para cada opção em uma pergunta de múltipla escolha, e também como respostas abertas. (Moran K.)
Utilizamos a plataforma de formulários do Google pela boa acessibilidade com leitores de tela. Além de ser responsiva, essa plataforma pode ser bem visualizada tanto em dispositivos móveis quanto em telas maiores.
O público da nossa pesquisa era composto de pessoas com algum tipo de deficiência visual e idosos, além do público em geral. Nosso objetivo era compreender como o consumo e a inclusão digital interferiam na vida dessas pessoas.
Tivemos um total de 122 respostas: 77 de pessoas com alguma deficiência visual e 36 de idosos.
Entre os participantes com alguma deficiência visual, analisamos o comportamento daqueles com baixa visão ou cegueira total. Mesmo em número menor, acreditamos que possuem particularidades de hábitos interessantes o suficiente para serem analisadas separadamente. Também tivemos dificuldades em conseguir uma amostragem maior com esse público, já que a entrevista presencial demandava mais tempo hábil para que o encontro com esses participantes ocorresse, o que não foi possível no cronograma da pesquisa.
Entre os participantes com baixa visão ou cegueira total, 55,6% eram homens, 66,7% possuíam de 36 a 64 anos e mais de 44,4% concluíram o ensino superior.
Em relação a seus hábitos digitais, todos os participantes possuíam um telefone celular, sendo igual o número de aparelhos Android e iPhone. Dentre os aplicativos mais utilizados o WhatsApp despontou unânime, sendo o Facebook, Google Maps e Waze os outros citados.
Possui celular?
Quais aplicativos costuma utilizar?
É interessante analisar que o uso de smartphone já está presente na rotina dos deficientes visuais, e a usabilidade dos aplicativos mais utilizados pode servir de referência para o nosso projeto, uma vez que esse tipo de interação demandaria um tempo menor de aprendizado.
Conhecer a frequência com que os deficientes visuais utilizam o celular em lugares públicos nos ajuda a direcionar sua necessidade e comprovar o que ouvimos nas entrevistas. Percebemos que raramente utilizam o celular na rua, o que já havíamos constatado, por se tratar de uma região menos segura. Os dois lugares mais comentados em que usam o celular foram os shoppings e rodoviária.
Quanto ao uso de aplicativos de localização, verificamos que ainda é algo raro, sendo o Google Maps o mais conhecido. Isso nos mostra um desafio, a necessidade de entrar em um mercado que ainda não auxilia esse público.
Em seguida, perguntamos sobre os hábitos de consumo: sobre a rotina de compras em shoppings e supermercados. Concluímos que poucos utilizam aplicativos de desconto, algo que ainda não é muito popular.
Tínhamos algumas dúvidas quanto o procedimento utilizado na hora de fazer compras: se dependiam de alguém, se era mais fácil comprar online ou se iriam até os estabelecimentos presencialmente. A partir das respostas, percebemos que ninguém do grupo fazia compras online: não tinham confiança em saber o que estava sendo comprado ou não tinham como conferir a entrega. Constatamos, entretanto, que a maioria frequenta os supermercados e shoppings, com possibilidade de o ViiRotas auxiliar nessas atividades.
Quando analisamos o comportamento nos supermercados e shoppings, percebemos uma diferença importante. Enquanto no supermercado os participantes vão obrigatoriamente para comprar algo de uma lista de necessidade, procuram ofertas e economizar, o shopping – ainda que também apresente essas particularidades –, está associado ao lazer. Dentre os entrevistados, 77,8% responderam que vão ao shopping para comer, por ser um lugar mais seguro e um ambiente mais controlado. Além disso, muitos deficientes visuais apontam o shopping como lugar ideal para fazer compras e passear. Isto porque, mesmo sendo o shopping um ambiente com pouca acessibilidade, ainda assim é mais inclusivo que a rua, mesmo dependendo de um acompanhante ou funcionário.
Finalizando o questionário, perguntamos em que lugares costumam ir sozinhos e se já ficaram perdidos nesses estabelecimentos. Nossa intenção era conhecer o grau de autonomia dos participantes e em que ambientes – e de que formas – poderíamos atuar.
Gráficos com as respostas dos participantes com alguma deficiência visual
Com que frequência utiliza aplicativos de localização?
Utiliza aplicativos de descontos?
Como costuma fazer compras?
Se precisa ir ao supermercado, como procede?
E no shopping?
Com que frequência sai de casa sozinho?
Já se perdeu dentro de um shopping ou supermercado?
De maneira geral, os participantes com deficiência visual costumam sair sozinhos, pois é difícil haver uma pessoa sempre disponível para acompanhá-los. Algo que chamou nossa atenção foi que muitos confessaram nunca irem sozinhos ao aeroporto. Esse número pode ser analisado pelo fato de não viajarem sozinhos, por sempre estarem acompanhados ou até por não ter acesso a viagens de avião, custo inacessível para a maioria da população brasileira.
Leia a continuação da pesquisa com o resultado dos participantes idosos.
Bibliografia
MORAN, K. Quantitative User-Research Methodologies: An Overview. Disponível em: https://www.nngroup.com/articles/quantitative-user-research-methods/
SAURO, J. Customer Analytics For Dummies. John Wiley & Sons, 2015
VOLPATO E. Pesquisa com usuários: como escolher a técnica certa? Disponível em: https://brasil.uxdesign.cc/pesquisa-com-usu%C3%A1rios-como-escolher-a-t%C3%A9cnica-certa-bdd09ee0f302